domingo, 27 de dezembro de 2009

27/12/2009


Pedalando e voando


E quando acionamos o pedal...
Eis que voamos e
Descobrimos um universo de paz e
Sintonia com a mãe natureza.
Encharcamos friamente nossos corpos e
A alma com luz e alegria.
Nos aventuramos como crianças,
Na emoção das pedaladas, na inversão das horas e
Na submersão das águas.
Enfim, conquistamos a cidade com nosso sorriso singelo e
Mais uma vez acreditamos no significado da amizade.


Debora de Paiva

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

No meio da tarde a chuva rega todas as classes de telhado impiedosamente. Entro em casa respingada. Sapatos na mão, olhos em arrepios pela revoada de gotas geladas. Na cozinha uma cena duplica-se em ternura. Desprovido de guarnição ou alarde, ele recebe-me como num solstício sem lançar suspeitas. Dedos embebidos no sumo de limões-cravo, acariciando cuidadosamente o peixe que descansa impecável na brancura da travessa espessa. Ainda incrédula àquela ação, abraço-o pelas costas num alvoroço festivo. Adepto, a carnes gordurentas e lingüiça apimentada eu o vejo naquele cardápio lírico zelando peixes. Não tive como deixar de puxar o fio da saudade e me redimir de toda pressa. Revi a cesta envelhecida de corda onde ficava o pão francês, ao lado dos pratos de ágata com borda de flor. A prateleira desprovida de cristais ou louças raras. A mesa de madeira idosa ressecada de estrias. O cheiro da infância posta na minha alma arrebatada e esperançosa. O amor aventurando-se morno, limpo e decifrável. Folheando um livro novo no meu rosto com lembranças de vó,farinha e mel. As cartas começaram assim; assunto calmo reportado às feiras literárias, noites de inverno, céu que vira dormitório de estrelas, e outras papoulas e cais. Lambi os beiços. O cheiro do peixe fazia-me refém daquele aguardo, enchia a casa. Não quis mais desperdiçar nenhum fiapo serenoso do amor naquela tarde.

Zenilda Lua